Saiba como apresentar o seu show na Concha Acústica do Parque Estadual do Jaraguá

A Concha Acústica do Parque Estadual do Jaraguá (PEJ) é um anfiteatro a céu aberto com degraus cimentados (dispostos em formato circular) que servem como assentos para o público, tal qual os antigos teatros gregos e romanos, construído no sopé do Pico do Jaraguá.
Apresentação de dança realizada na Concha Acústica do PEJ durante evento do Dia das Crianças 2016
Apresentação de dança realizada na Concha Acústica
do PEJ durante evento do Dia das Crianças 2016

De acordo com o livro "Cadernos brasileiros de Arquitetura" (1986) organizado por Luciano Fiaschi, tal anfiteatro foi concebido em 1976 como resultado de um projeto arquitetônico de Leo Tomchinsky e de um projeto paisagístico realizado pela empresa Suely Suchodoski e Benedito Abbud Arquitetos Paisagistas Ltda., com estrutura de J.K. Kurkdjian e J.S. Kurkdjian, pesquisa de aspectos históricos e culturais de Ana Maria Beluzzo e Glória Motta, sob a coordenação do engenheiro Ariovaldo F. Andrade da C.P.R. Consultoria Projetos e Obras Ltda., todos contratados pela Secretaria de Estado dos Negócios de Esporte e Turismo de São Paulo.

Esses projetos envolveram o zoneamento da parte do sopé do Pico do Jaraguá, onde foram realizadas intervenções no Casarão Afonso Sardinha, gramados, arborização, lagos, pomar, acessos, estacionamento, trilhas e caminhos, além da construção da Concha Acústica (anfiteatro maior), entre outras coisas; e da parte de cima do elevado, onde foram construídos uma esplanada, uma cobertura para a área do bar e de serviços, plataforma para miniférico, belvederes (mirantes) e um anfiteatro menor, bem como intervenções em um bosque de espécies nativas e exóticas.
Foto antiga sem data (1976?) captada do livro "Cadernos brasileiros de Arquitetura" que mostra o anfiteatro menor do PEJ localizado no topo do Pico do Jaraguá
Foto antiga sem data (1976?) captada do livro "Cadernos brasileiros de Arquitetura" que mostra o anfiteatro menor do PEJ localizado no topo do Pico do Jaraguá
"As críticas e sugestões, obtidas mediante técnicas próprias de pesquisa, se colocam todas a um nível de exigências apenas elementar, apontando para itens básicos de conforto ambiental, de equipamentos e serviços, ou seja: melhoria das vias internas, abrigos, bancos e mesinhas, sanitários e bebedouros para crianças, limpeza e conservação do local", escreve Fiaschi no referido livro acerca dos projetos de Paisagismo e Arquitetura concretizados no lugar "vale dizer: somente o essencial para melhor fruição daquilo que é o maior atrativo do parque: sua paisagem natural", completa.
 Concha Acústica do PEJ em foto sem data (1976?) captada do livro "Cadernos brasileiros de Arquitetura". Repare que o palco ainda não havia sido construído (compare com as demais fotos - mais recentes - disponíveis nesse artigo). Concha Acústica do PEJ (anfiteatro maior localizado no sopé do Pico do Jaraguá) em foto sem data (1976?) captada do livro "Cadernos brasileiros de Arquitetura". Repare que o palco ainda não havia sido construído (compare com as demais fotos - mais recentes - disponíveis nesse artigo).
Concha Acústica do PEJ (anfiteatro maior localizado no sopé do Pico do Jaraguá) em foto sem data (1976?) captada do livro "Cadernos brasileiros de Arquitetura". Repare que o palco ainda não havia sido construído (compare com as demais fotos - mais recentes - disponíveis nesse artigo).
A Concha Acústica do sopé do Pico do Jaraguá - onde atualmente todo e qualquer cidadão pode apresentar espetáculos com temática ambiental e cultural - possui como infraestrutura:
  • Arquibancada com capacidade para 2 mil pessoas;
  • 2 camarins;
  • 1 antessala (para uso dos artistas antes de entrarem no palco);
  • 1 micro sala (frontal ao público) com vidro fumê para uso do operador de som, vídeo, iluminação, etc.;
  • 2 banheiros (dentro do complexo de camarins) para uso dos artistas;
  • 2 banheiros (atrás da arquibancada) para uso do público em geral;
  • 1 palco arredondado com 15 a 20 metros quadrados;
  • Fosso que separa a arquibancada/público do palco/artistas;
  • Espaço para restaurante (com cobertura).
Segundo o funcionário da Fundação Florestal que administra o PEJ, Gustavo Lopes, este anfiteatro foi revitalizado juntamente com outras áreas do parque em 2016, "hoje, temos em média 4 shows por ano no lugar, com destaque para a Banda Fanfarra da Guarda Civil e para o Coral da Aldeia Guarani", informa.

A época de ouro da Concha Acústica do PEJ

Nos anos 1980 e 1990, a Concha Acústica do PEJ recebia periodicamente shows musicais e espetáculos de teatro, a maioria promovidos pelo Centro Cultural de Pirituba (CCP). Aquela foi a época de ouro do anfiteatro.
O músico Jailton em ensaio debaixo da parte coberta da Concha Acústica do PEJ em sua época de ouro. Foto: acervo Osmar de Lima Sabiá
O músico Jailton em ensaio debaixo da parte coberta
da Concha Acústica do PEJ em sua época de ouro.
Foto: acervo Osmar de Lima Sabiá
"Foi no período militar, quando nos reuníamos para realizar apresentações artísticas em praças públicas, apesar das proibições da era vigente", escreve o então presidente do CCP, Reginaldo Prado, no enunciado da fanpage da instituição no Facebook criada recentemente. Nesse contexto, vale lembrar que a geração seguinte criou o Movimento Cultural Pirituba Jaraguá (Mocupija), que atualmente tem organizado eventos variados em espaços culturais da região como nos CEUs, shoppings, escolas, aldeias indígenas e localidades urbanas abertas em geral.

No anos 1970/80/90, bandas como a Tuba Oficina, Asas de Fogo, Nova Era e Aeroplano, entre outras, se revezavam no palco da Concha Acústica do PEJ com musicistas como a compositora e cantora Ná Ozzetti e o reizinho da Jovem Guarda, Ed Carlos, por exemplo, "realizávamos shows em quase todos os finais de semana", diz Osmar de Lima Sabiá, que fazia voz, violão e poesia na Tuba Oficina, "normalmente aquele espaço ficava lotado e, às vezes, com muita gente de pé. A média era de 300 pessoas por shows, mas alguns espetáculos levavam 500, 1 mil ou mais pessoas para lá", revela.

Sabiá conta que tocava canções do Vandré, Chico e clássicos da MPB, mas uma das músicas mais pedidas era a "Modinha do Pico do Jaraguá" composta por Birhu, confira no vídeo:


Outro músico que fazia shows na Concha Acústica na época era o Hamilton Drummer, da banda Asas de Fogo, "eu e o Reginaldo do CCP lutávamos para que as bandas da época tocassem com instrumentos de qualidade", recorda.

Drummer diz que nos anos 1980 o anfiteatro possuía um palco de madeira e não de concreto como é hoje, "minha bateria entrava nas frestas do palco", lembra. Ele conta que, naquela época, também não havia camarins.

Além de shows musicais, a concha recebia espetáculos de dança, artes marciais (capoeira) e peças de teatro. Com o tempo, as apresentações foram minguando, até que se acabaram. De acordo com Sabiá, o movimento se enfraqueceu porque os lideres foram se afastando por causa das correrias da vida.

O CCP era tão influente que, em 1985, a TV Cultura elaborou um documentário intitulado "Cidade dos meus amores", no qual expunha os produtores populares de arte de Pirituba, Jaraguá e Perus do referido centro cultural, muitos dos quais passaram pela Concha Acústica do PEJ, veja:


Hoje, o anfiteatro do PEJ é utilizado basicamente nos eventos do tradicional Dia das Crianças, festa na qual o parque chega a receber entre 15 mil e 30 mil turistas. Nos demais dias do ano raramente ocorre algum show no lugar.

Como apresentar o seu show na Concha Acústica do PEJ?

O anfiteatro do PEJ pode ser reservado por todo e qualquer cidadão para a realização de apresentações exclusivamente culturais e ambientais, tais como:
  • Shows musicais
  • Espetáculos de dança
  • Exibições de artes marciais (capoeira, por exemplo) 
  • Peças de teatro
  • Exibições de vídeos
Anfiteatro do PEJ, também chamado de Concha Acústica. Foto: João Batista Shimoto
Anfiteatro do PEJ, também chamado de Concha Acústica.
Foto: João Batista Shimoto
Os interessados devem procurar a administração do PEJ na rua Antônio Cardoso Nogueira, 539, na Vila Chica Luisa, dentro do bairro Jaraguá, ou tentar outras opções de comunicação, tais como o e-mail <pe.jaragua@fflorestal.sp.gov.br> ou os telefones (11) 3941-2162 / (11) 3943-5222.

No ato do requerimento do espaço para apresentação de shows e/ou espetáculos, o interessado deve:
  • Agendar o evento;
  • Assinar termo de responsabilidade (que o torna responsável por quaisquer danos causados ao patrimônio);
  • Cumprir as regras estabelecidas pela gestão.
Todo o processo de divulgação do espetáculo fica a cargo do requerente, a menos que a apresentação seja realizada no tradicional Dia das Crianças, evento este que é naturalmente divulgado pelas mídias da Fundação Florestal.
Sobre o Autor:
Marinaldo Gomes Pedrosa Marinaldo Gomes Pedrosa é formado em Jornalismo pela UniSant'Anna. Vive no bairro Jaraguá desde 1976.

Comentários