10 curiosidades sobre o Pico do Jaraguá

O Pico do Jaraguá está localizado dentro do Parque Estadual do Jaraguá (PEJ), uma Unidade de Conservação criada em 1961 (e declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1994) para salvaguardar a fauna e a flora localizada ao longo de 492,68 hectares dos biomas do Cerrado (savana arborizada) e da Mata Atlântica.

O termo-chave "Pico do Jaraguá" é buscado entre 10 mil e 100 mil vezes por mês no Brasil, revelam-nos as estimativas da Keyword Planner (ferramenta de palavras-chave da empresa Google). Estariam as pessoas que fazem tantas pesquisas sobre esse lugar em busca de curiosidades? Você é uma dessas pessoas? Se for, eis que acaba de encontrar 10 informações surpreendentes a respeito do mencionado elevado, confira:

  • No tempo da colonização

No período colonial, os chamados bandeirantes utilizavam o Pico do Jaraguá como referência (um tipo de bússola) para se orientarem ao longo do Planalto Paulista (faixa de terra que cobre quase metade do Estado de São Paulo). Você poderá saber mais sobre isso no livro "Morro Jaraguá: o senhor dos vales", do historiador Wilson Alves de Castro. Outra curiosidade daquela época é que havia uma trilha indígena com mais de 3 mil quilômetros, que cortava a América do Sul de leste a oeste, a qual talvez passasse por cima do elevado. Leia o post "Pesquisador supõe que rota milenar transcontinental indígena passava pelo Jaraguá" e conheça essa história.
O Pico do Jaraguá era uma "bússola" para os bandeirantes. Imagem tratada pelo fotógrafo Caio Reisewitz a partir de outra imagem feita pelo fotógrafo Joaquim Reis. Foto: acervo Reisewitz
O Pico do Jaraguá era uma "bússola" para os bandeirantes. Imagem tratada pelo fotógrafo Caio Reisewitz a partir de outra imagem feita pelo fotógrafo Joaquim Reis (sem data). Foto: acervo Reisewitz

  • Dureza e resistência

O Pico do Jaraguá é um elevado de quartzo intemperizado (quartzito). Você poderá saber mais sobre isso no artigo "Entrevista: cientista da natureza formada pela USP revela do que é feito o Pico do Jaraguá" publicado aqui mesmo no Jaraguá SP Post. O quartzo conta com nível de dureza "7" na Escala de Mohs e é, portanto, mais duro que o aço, que tem grau 4-4.5 na mesma escala. O quartzito, por sua vez, tem mais de 75% de quartzo em sua composição. Isso faz do Pico do Jaraguá um morro altamente resistente contra a erosão. Por isso, ele é chamado de Morro Testemunho no meio acadêmico.

Exposição de quartzito do Pico do Jaraguá visualizada a partir da estrada que leva ao topo do elevado
Exposição de quartzito do Pico do Jaraguá visualizada a partir da estrada que leva ao topo do elevado

  • Mais antigo que o Everest

Mais antigo que a cordilheira dos Andes (formada entre 100 milhões e 30 milhões de anos) e que a cordilheira do Himalaia (originada entre 70 milhões e 30 milhões de anos), o Pico do Jaraguá foi modelado na paisagem há cerca de algo entre 700 milhões e 500 milhões de anos, durante a formação do supercontinente Gondwana.
O Monte Everest (8.848m) e toda a cordilheira do Himalaia são cerca de 500 milhões de anos mais novos que o Pico do Jaraguá. Foto: acervo Wikipédia
O Monte Everest (8.848m) e toda a cordilheira do Himalaia são cerca de 500 milhões de anos mais novos que o Pico do Jaraguá. Foto: acervo Wikipédia

  • De baixo para cima

O elevado tem a maior média mundial de raios invertidos. Em grandes tempestades, coriscos imperceptíveis a olho nu (só filmados por meio de uma câmera especial que custa R$ 200 mil) partem de suas antenas para as nuvens. Leia os artigos "Pico do Jaraguá tem a maior média mundial de raios invertidos" e "No Jaraguá, Inpe registra raios invertidos simultâneos pela 1ª vez na história do Brasil" para ficar por dentro desse assunto.
Dois raios invertidos (de baixo para cima) no Pico do Jaraguá. Foto: acervo Marcelo Saba - CCTS/Inpe
Dois raios invertidos (de baixo para cima) no Pico do Jaraguá. Foto: acervo Marcelo Saba - CCTS/Inpe

  • Confinamento

O Pico do Jaraguá está localizado dentro do PEJ que, por sua vez, está confinado pela rodovia Anhanguera (à esquerda da foto a seguir), pela rodovia dos Bandeirantes (à direita), pelo Rodoanel (acima) e por áreas residenciais (abaixo), um fato preocupante do ponto de vista ambiental. O confinamento deste lugar é um dos assuntos tratados no artigo "Diversidade da fauna do Parque Estadual do Jaraguá: importância deste remanescente frente aos impactos da urbanização" escrito pela bióloga Natasha Ceretti.
Confinamento do PEJ, que abriga o Pico do Jaraguá
Confinamento do PEJ, que abriga o Pico do Jaraguá

  • Resquícios do Ciclo do Café

Pés de café nascem "do nada" ao redor do Pico do Jaraguá. Eles são o "legado" das plantações realizadas durante o Ciclo do Café (séculos 18 e 19) na região. Quando surgem nas trilhas do PEJ (como na Trilha do Silêncio, por exemplo) essas plantas são arrancadas pelos técnicos ambientais porque não são nativas. Este exemplar da foto a seguir, no entanto, nasceu na Chácara Vereda Peabiru (há poucos metros do PEJ) e o proprietário do lugar, o Sr. Roberto Yamashita, resolveu deixar crescer porque gosta da aparência dos frutos vermelhos.
Pé de café na propriedade do Sr. Roberto Yamashita
Pé de café na propriedade do Sr. Roberto Yamashita

  • Criadouro de animais

O turista que é bom observador, quando vai ao mirante do Pico do Jaraguá (próximo à antena da TV Cultura), consegue perceber que há na encosta do morro algumas construções abandonadas. O que seriam aquelas ruínas? De acordo com funcionários e voluntários do PEJ, tais construções eram propriedade de um homem que criava gado no lugar. Elas foram utilizadas até meados da década de 1990, quando o dono faleceu. Os familiares dele nunca apareceram. Há, ainda, outras coisas abandonadas ao redor do morro, como você poderá descobrir ao ler a matéria "Conpresp quer tombar ruínas de antiga pedreira de quartzo localizada no Jaraguá".
Ruínas de uma construção nas imediações do Pico do Jaraguá utilizada na década de 1990 para criação de animais
Ruínas de uma construção nas imediações do Pico do Jaraguá utilizada na década de 1990 para criação de animais

  • O ícone perdido

Desde o final da década de 1920, moradores e políticos tentam construir no cume do elevado um monumento símbolo para a cidade de São Paulo, tal qual o Cristo Redentor o é para o Rio de Janeiro. Conheça essa história no artigo "Lei abriu crédito para a construção de estátua de 75 metros ao apóstolo Paulo no Pico do Jaraguá, mas a Globo impediu o projeto".
Ainda hoje há quem sonhe em construir um monumento iconográfico para a cidade de São Paulo no alto do Pico do Jaraguá
Ainda hoje há quem sonhe em construir um monumento iconográfico para a cidade de São Paulo no alto do Pico do Jaraguá

  • Águas que murmuram

O Ribeirão das Lavras, que nasce dentro do Pico do Jaraguá, foi o riacho onde os europeus encontraram ouro e pedras verdes pela primeira vez no Planalto Paulista. Hoje, esse pequeno rio encontra-se quase totalmente poluído, assunto sobre o qual você poderá saber mais ao ler a matéria "Documentário mostra a importância do Ribeirão das Lavras e expõe seu atual estado de calamidade".
Parte não poluída do Ribeirão das Lavras
Parte não poluída do Ribeirão das Lavras

  • Um erro histórico?

Com 1.135 metros de altitude, acreditou-se piamente durante muito tempo que o Pico do Jaraguá seria o mais alto da cidade de São Paulo, mas será que é mesmo? Há quem discorde. Leia "Reviravolta: Pico do Jaraguá não é o mais alto da cidade de São Paulo, sugerem cicloturistas".
O elevado das Torres Parque Taipas supera o Pico do Jaraguá em altura em algumas dezenas de metros
O elevado das Torres Parque Taipas supera o Pico do Jaraguá em altura em algumas dezenas de metros

Uma curiosidade extra é que há atualmente seis aldeias guaranis implantadas ao redor do pico. Acesse o post "14 documentários para você compreender a Terra Indígena Jaraguá localizada em São Paulo" e fique por dentro.

E você, conhece alguma curiosidade sobre o Pico do Jaraguá? Em caso positivo, escreva sobre ela nos comentários logo abaixo...

Referências:

CASTRO, Wilson Alves de. Morro Jaraguá: o senhor dos vales. São Paulo: publicação independente, 1998. 96 p.

CORDEIRO, José. Pico do Jaraguá. São Paulo: Cidade de São Paulo. Disponível em: <http://www.cidadedesaopaulo.com/sp/o-que-visitar/atrativos/pontos-turisticos/4353-pico-do-jaragua>. Acesso em: 13.out.2017.

FUNDAÇÃO FLORESTAL. Sobre o parque. São Paulo: Fundação Florestal. Disponível em <http://www3.ambiente.sp.gov.br/parque-estadual-do-jaragua/>. Acesso em: 13.out.2017.

MARIA, Natasha Ceretti. Diversidade da fauna do Parque Estadual do Jaraguá: importância deste remanescente frente aos impactos da urbanização. São Paulo: Jaraguá SP Post, 2017. Disponível em <http://jaraguasp.blogspot.com.br/2017/08/diversidade-fauna-parque-estadual-jaragua-importancia-remanescente-impactos-urbanizacao.html>. Acesso em 13 out.2017.

PEDROSA, Marinaldo Gomes. 14 documentários para você compreender a Terra Indígena Jaraguá localizada em São Paulo. São Paulo: Jaraguá SP Post, 2017. Disponível em <http://jaraguasp.blogspot.com.br/2017/06/documentarios-compreender-terra-indigena-jaragua-sao-paulo.html>. Acesso em 13.out.2017.

PEDROSA, Marinaldo Gomes. Entrevista: cientista da natureza formada pela USP revela do que é feito o Pico do Jaraguá. São Paulo: Jaraguá SP Post, 2017. Disponível em <http://jaraguasp.blogspot.com.br/2017/03/entrevista-cientista-natureza-formada-usp-revela-dentro-pico-jaragua.html>. Acesso em 13.out.2017.

PEDROSA, Marinaldo Gomes. Lei abriu crédito para construção de estátua de 75 metros ao apóstolo Paulo no Pico do Jaraguá, mas a Globo impediu o projeto. São Paulo: Jaraguá SP Post, 2017. Disponível em <http://jaraguasp.blogspot.com.br/2017/05/lei-abriu-credito-para-construcao-estatua-75-metros-apostolo-paulo-pico-jaragua-globo-impediu-projeto.html>. Acesso em 13.out.2017.

PEDROSA, Marinaldo Gomes. No Jaraguá, Inpe registra raios invertidos simultâneos pela 1ª vez na história do Brasil. São Paulo: Jaraguá SP Post, 2016. Disponível em <http://jaraguasp.blogspot.com.br/2016/11/jaragua-inpe-registra-raios-invertidos-simultaneos-primeira-vez-historia-brasil.html>. Acesso em 13.out.2017.

PEDROSA, Marinaldo Gomes. Pesquisador supõe que rota milenar transcontinental indígena passava pelo Jaraguá. São Paulo: Jaraguá SP Post, 2017. Disponível em <http://jaraguasp.blogspot.com.br/2017/10/pesquisador-supoe-rota-milenar-transcontinental-indigena-passava-jaragua.html>. Acesso em 13.out.2017.

PEDROSA, Marinaldo Gomes. Pico do Jaraguá tem a maior média mundial de raios invertidos. São Paulo: Jaraguá SP Post, 2016. Disponível em <http://jaraguasp.blogspot.com.br/2016/09/pico-jaragua-maior-media-mundial-raios-invertidos.htmlr/2016/11/jaragua-inpe-registra-raios-invertidos-simultaneos-primeira-vez-historia-brasil.html>. Acesso em 13.out.2017.

PEDROSA, Marinaldo Gomes. Reviravolta: Pico do Jaraguá não é o mais alto da cidade de São Paulo. São Paulo: Jaraguá SP Post, 2017. Disponível em <http://jaraguasp.blogspot.com.br/2017/02/reviravolta-pico-jaragua-nao-e-o-mais-alto-cidade-sao-paulo-sugerem-cicloturistas.html>. Acesso em 13.out.2017.

WIKIPÉDIA. Escala de Mohs. Wikipédia. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Escala_de_Mohs>. Atualizado em 27.set.2017. Acesso em 13.out.2017.

WIKIPÉDIA. Gondwana. Wikipédia. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Gondwana>. Atualizado em 28.jun.2017. Acesso em 13.out.2017.

WIKIPÉDIA. Himalaias. Wikipédia. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Himalaias>. Atualizado em 19.mai.2017. Acesso em 13.out.2017.

ZIEGLER, Maria Fernanda. Formação dos Andes criou biodiversidade amazônica, diz estudo. Último Segundo, 2010. Disponível em <http://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/formacao-dos-andes-criou-biodiversidade-amazonica-diz-estudo/n1237825000907.html>. Acesso em: 13.out.2017.

Sobre o Autor:
Marinaldo Gomes Pedrosa Marinaldo Gomes Pedrosa é formado em Jornalismo pela UniSant'Anna. Vive no bairro Jaraguá desde 1976.

Comentários

  1. Eu frequento o pico do Jaragua desde 1961 pois iamos de bicicleta.depois com a namorada.depois com a esposa e filhos.hoje frequento com os netos....e fantastico

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  2. a altura do Pico do Jaraguá começa do chão da cidade de São Paulo, ou ele tem essa altura, a contar do nível do mar??

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    1. Olá! A medida mais comum utilizada em Geografia é "ao nível do mar", todavia pode-se usar outras referências como o "centro da Terra", por exemplo. Para você ter uma ideia, quando o "centro da Terra" é usado como referência, o lugar mais alto do planeta passa a ser o Chimborazo ao invés do Everest. Acesse e leia o texto "Qual é o ponto na Terra mais distante do centro do planeta?" publicado no site da revista Superinteressante e saiba mais sobre isso.

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