Texto da dramaturga Maria Shu será encenado na Europa

O texto "Peça para quem não veio (2017)" (Prière pour les futurs absents, em francês) produzido pela dramaturga baiana Maria Shu (41) - que vive há 15 anos no bairro Jaraguá, periferia noroeste de São Paulo - será encenado em dezembro de 2017 em várias casas de espetáculos francesas, confira:
  • Espace Grün (na cidade de Cernay): no dia 01/dez/2017, às 20h30;
  • Chapelle Graindorge (em Bagnolet): no dia 10/dez/2017, às 20h00;
  • Centre Culturel du Crous (em Paris): nos dias 14, 15, 16 e 18/dez/2017.
Nos dias 25 e 26 de novembro últimos, o mesmo espetáculo já havia sido realizado no Simone Camp d’Entrainement Artistique, um centro cultural instalado no galpão de uma antiga fábrica abandonada da Le Chameau localizado em Châteauvillain.

Maria Shu é uma das raras dramaturgas negras da capital paulista. No bairro Jaraguá, onde mora, ela é provavelmente a única. Foto: Carlos Ronchi
Maria Shu é uma das raras dramaturgas negras da capital paulista.
No bairro Jaraguá, onde mora, ela é provavelmente a única. Foto: Carlos Ronchi
Os escritos de "Peça para quem não veio" foram traduzidos para o idioma francês pela fundadora da Compagnie Nie Wiem, Anne-Laure Lemaire, que dirige a peça teatral com duração de 50 minutos juntamente com a comunicóloga, radialista, produtora e diretora de teatro, Bia Szvat.
A obra apresenta a história de um homem que, desolado por episódios de racismo, se recusa a obedecer a ordem do Deus cristão para se multiplicar, povoar e dominar o planeta Terra dada a Noé e seus descendentes (Gênesis 9:1), "quando exibimos uma sessão experimental em março no Teatro da USP, em São Paulo, a receptividade do público foi boa, mas na França tem sido ainda maior, mais intensa", surpreende-se Maria Shu, "sinceramente, eu não esperava que um texto sobre infância e racismo comovesse mais o público da França, cuja população é composta por apenas 2% de negros, que o do Brasil, que conta com mais de 52% de pessoas negras. A temporada lá está no início e sigo na expectativa de que a peça seja acolhida, bem vista, que ofereça poesia e fúria para quem a assistir".

 ator Otacilio Alacran, protagonista em "Peça para quem não veio", em sessão experimental no Teatro da USP, em março de 2017. Foto: acervo Maria Shu
O ator Otacilio Alacran, protagonista em "Peça para quem não veio", em sessão experimental no Teatro da USP, em março de 2017.
Foto: acervo Maria Shu
Essa, porém, não é a primeira vez que a dramaturga tem sua produção teatralizada fora do Brasil. Em 2013, o texto "Cabaret Stravaganza (2011)" foi traduzido para os idiomas espanhol, inglês e sueco e encenado na Suécia. Já em 2017, foi a vez de Portugal receber "Ar rarefeito (2013)", que foi primeiro lugar no Prêmio Heleny Guariba de dramaturgia. No mesmo ano, "Epifania  (2016)" - inspirado no romance "A hora da estrela", de Clarice Lispector - ganhou o palco do 3º Festival Nacional de Teatro do Mindelo, em Cabo Verde, na África.
Maria Shu diz que, em 2018, "Peça para quem não veio" estreará no Brasil e que logo será lançado um livro que abordará o processo de montagem, dramaturgia e bastidores desse espetáculo teatral. Além disso, no próximo ano, "Epifania" voltará a ser encenado e um outro texto da autora, o "Leoa na Baia", que está na etapa de ensaio, poderá ganhar os palcos, "além desses projetos, estou em fase de montagem de "Sobre Alices", um espetáculo que será dirigido por Bia Szvat e que também estreará em breve", revela.

Sobre o Autor:
Marinaldo Gomes Pedrosa Marinaldo Gomes Pedrosa é formado em Jornalismo pela UniSant'Anna. Vive no bairro Jaraguá desde 1976.

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