Pintura a céu aberto no bairro Jaraguá resiste a mais de 50 anos de intempéries

Uma pintura-mural produzida pelo cenógrafo, restaurador, professor e pintor, Henrique Manzo (1896-1982), na fachada da Galeria Narciza localizada no número 22 da rua Antônio Cardoso Nogueira, aos pés do Pico do Jaraguá, na região Noroeste de São Paulo, sobrevive aos efeitos dos raios solares, das chuvas, dos ventos, dos nevoeiros, do frio, do calor e de outras intempéries ao longo de mais de 50 anos.

Nesta foto de 1970, o garoto Paulo Rezzutti, sobrinho bisneto do pintor Henrique Manzo, posa na frente da Galeria Narciza e de sua pintura-mural. Atualmente, Rezzutti é renomado escritor brasileiro, autor de várias obras sobre a História do Brasil, incluindo o livro  "D. Pedro, a história não contada" (Editora Leya), com o qual ganhou um Prêmio Jabuti em 2016. Foto: acervo Paulo Rezzutti
Nesta foto de 1970, o garoto Paulo Rezzutti, sobrinho bisneto do pintor Henrique Manzo,
posa na frente da Galeria Narciza e de sua pintura-mural. Atualmente, Rezzutti é renomado escritor
brasileiro, autor de várias obras sobre a História do Brasil, incluindo o livro
 "D. Pedro, a história não contada" (Editora Leya), com o qual ganhou um Prêmio Jabuti em 2016.
Foto: acervo Paulo Rezzutti
Criada em 1963, essa pintura intitulada "Coral da Paz" é composta por dois painéis, nos quais pode-se observar 20 mulheres indígenas e duas crianças. Ela embeleza a fachada da Galeria Narciza que, por sua vez, é um museu fundado no mesmo ano pelo próprio Manzo.

Curiosamente, quando Manzo produziu tais painéis, os índios da etnia guarani mbya que hoje são vizinhos da galeria ainda não haviam chegado aquela região. Só um ano depois, em 1964, é que estes fundariam a Tekoa Ytu (Aldeia da Cachoeira) e, anos mais tarde, a Tekoa Pyau (Aldeia Nova), a Tekoa Itawera (Aldeia da Pedra Reluzente) e a Tekoa Itakupe (Aldeia Atrás da Pedra) que, juntas, formam o que chamamos hoje de Território Indígena (TI) Jaraguá.

Não se sabe ao certo o motivo pelo qual Manzo teria produzido a pintura "Coral da Paz", no entanto, o seu sobrinho bisneto, o arquiteto e escritor Paulo Rezzutti, tem uma pista, "essa não é uma coisa que ele teria comentado, mas provavelmente ele criou a pintura porque, arquitetonicamente, com a construção da galeria, ele ficou com uma empena (uma vasta área sem janela) na fachada e, por isso, ele pode ter achado que deveria criar algum elemento para disfarçar aquela parede enorme e, assim, inventou o mural", conta.

O nome da galeria, por sua vez, foi uma homenagem de Manzo à sua esposa Narciza Ferreira da Silva Manzo, com quem viveu ao longo de 60 anos, desde o momento em que se conheceram em 1922 até a morte do pintor em 1982.

Nesta fotografia clicada nos anos 1930, Henrique Manzo é o senhor em pé ao lado do menino que está sentado no teto do carro. Narciza Manzo é a mulher que segura uma criança no colo. Foto: acervo Paulo Rezzutti
Nesta fotografia clicada nos anos 1930, Henrique Manzo é o senhor em pé ao lado do menino que
está sentado no teto do carro. Narciza Manzo é a mulher que segura uma criança no colo.
Foto: acervo Paulo Rezzutti
Um ano após a morte de Manzo, sua esposa mandara fazer uma placa - fixada até os dias de hoje na entrada da galeria - com os seguintes dizeres:
“Henrique Manzo foi um grande artista, um grande desenhista. Foi um bom professor da Faculdade de Belas Artes de São Paulo. Foi comendador, um grande cenógrafo, arquiteto, admirador do Pico de Jaraguá. Amava a boa pintura e combatia a má. Fundador do Salão Paulista em 1922, era muito sincero em tudo o que fazia. Sua mãe, sua alma. Suas mãos, palheta, tintas, pincéis e quadros foram as joias do pintor Manzo, que falam por ele para toda a humanidade. Gênio do Século 20. 21-05-1983. Narciza Manzo”.
Manzo teve uma vida intensa. Além de pintor, desenhista e professor, ele também atuou como:
  • Cenógrafo da bailarina russa Ana Pavlova
  • Cenógrafo do dramaturgo Procópio Ferreira
  • Cenógrafo da Companhia Elsa
  • Cenógrafo do Teatro Carlos Gomes
  • Restaurador no Museu Paulista (Museu do Ipiranga)
  • Professor na Escola Paulista de Belas Artes (a qual ajudou a fundar) até a década de 1960

A Galeria Narciza com sua pintura-mural "Coral da Paz" em foto clicada em 2009
A Galeria Narciza com sua pintura-mural "Coral da Paz" em foto clicada em 2009
A galeria abriga aproximadamente 150 quadros de Manzo. A edificação necessita de reparos, bem como a pintura-mural de sua fachada precisa ser restaurada, o que os atuais cuidadores não têm condições de realizar. Desde os anos 1980, a família Manzo tenta deixar o museu aos cuidados de instituições culturais do município e/ou do estado sem, no entanto, obter sucesso.

Para saber mais sobre a Galeria Narciza, leia o artigo "Uma joia escondida".

Sobre o Autor:
Marinaldo Gomes Pedrosa Marinaldo Gomes Pedrosa é formado em Jornalismo pela UniSant'Anna. Vive no bairro Jaraguá desde 1976.

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