O historiador e fundador do Coletivo Salve Kebrada, Rodrigo Gonçalves Benevenuto, que mora no Jardim Ipanema, bairro Jaraguá, concluiu em setembro de 2017 um mestrado em História na Fundação Getulio Vargas (FGV) com a apresentação da dissertação "Lutas sociais, associativismo e redemocratização na periferia noroeste de São Paulo: Jaraguá, 1983-1988". Ele foi orientado pelo professor Paulo Fontes e avaliado pelos professores Dulce Pandolfi e Daniel Hirata. O projeto levou dois anos desde o planejamento até finalização.
A dissertação de Benevenuto expõe aspectos da formação de classe por meio de articulações e protestos ocorridos no Jaraguá na década de 1980, quando o Brasil passava por um momento de redemocratização, lutas sociais, campanhas eleitorais e pela elaboração da Constituição de 1988.
"O que mais gostei nesse processo foi que descobri tantas coisas sobre a quebrada, que pude criar uma outra visão da construção da periferia", disse o historiador em entrevista para o Jaraguá SP Post, "com isso, hoje eu tento me desvincular dos movimentos de direita e também dos de esquerda. Não que estes não possuam coisas boas, mas é que a periferia tem um jeito próprio de proceder que muitas vezes essas ideologias não conseguem captar. Então, está na hora da gente começar a dizer a partir da própria periferia o que é a Política, o que é a Economia, etc., porque a lógica que as pessoas vivem aqui é muito singular, ela escapa às ideologias [de esquerda e direita] que são articuladas de fora para dentro e de cima para baixo. Só aí é que poderemos ter uma esperança para a redução da desigualdade", explica.
Naquele período, os 28 km² do distrito Jaraguá possuíam uma população de 47 mil pessoas. Hoje tem mais de 200 mil, o que já é muito mais do que a população de cidades como Vinhedo (72 mil), Holambra (14 mil) e Cubatão (118 mil) e Benevenuto diz que a tendência é que essa densidade aumente no futuro, "está ficando muito claro para mim que Pirituba é um lugar que está ficando mais caro e que está recebendo pessoas com maior poder aquisitivo e que o Jaraguá está recebendo os moradores mais pobres. Então, eu acho que o Jaraguá tende a aumentar as casas, os puxadinhos, o número de favelas, de conjuntos habitacionais, de aluguéis, e dessa forma, esse bairro vai se transformar em um quebradão tipo Capão Redondo [268 mil habitantes]".
Quanto ao futuro dele próprio, Benevenuto diz que pretende continuar à frente do Coletivo Salve Kebrada, realizar um doutorado com temática voltada para todas as periferias de São Paulo e trabalhar como professor ou pesquisador no ramo de História. Ele também está elaborando um projeto para um edital de fomento à periferia para fins de criação de um Centro Cultural no bairro Jaraguá.
A dissertação "Lutas sociais, associativismo e redemocratização na periferia noroeste de São Paulo: Jaraguá, 1983-1988" está disponível na íntegra para leitura no Scribd (clique no link em vermelho para acessá-la).
Sobre o Autor:
Da esquerda para a direita: o professor Paulo Fontes, o historiador Rodrigo Gonçalves Benevenuto, a professora Dulce Pandolfi e o professor Daniel Hirata. Foto: João Christóvão |
A dissertação de Benevenuto expõe aspectos da formação de classe por meio de articulações e protestos ocorridos no Jaraguá na década de 1980, quando o Brasil passava por um momento de redemocratização, lutas sociais, campanhas eleitorais e pela elaboração da Constituição de 1988.
"O que mais gostei nesse processo foi que descobri tantas coisas sobre a quebrada, que pude criar uma outra visão da construção da periferia", disse o historiador em entrevista para o Jaraguá SP Post, "com isso, hoje eu tento me desvincular dos movimentos de direita e também dos de esquerda. Não que estes não possuam coisas boas, mas é que a periferia tem um jeito próprio de proceder que muitas vezes essas ideologias não conseguem captar. Então, está na hora da gente começar a dizer a partir da própria periferia o que é a Política, o que é a Economia, etc., porque a lógica que as pessoas vivem aqui é muito singular, ela escapa às ideologias [de esquerda e direita] que são articuladas de fora para dentro e de cima para baixo. Só aí é que poderemos ter uma esperança para a redução da desigualdade", explica.
- Leia também: "Historiador aponta 7 caminhos para os jaraguenses lutarem por uma Prefeitura Regional"
Naquele período, os 28 km² do distrito Jaraguá possuíam uma população de 47 mil pessoas. Hoje tem mais de 200 mil, o que já é muito mais do que a população de cidades como Vinhedo (72 mil), Holambra (14 mil) e Cubatão (118 mil) e Benevenuto diz que a tendência é que essa densidade aumente no futuro, "está ficando muito claro para mim que Pirituba é um lugar que está ficando mais caro e que está recebendo pessoas com maior poder aquisitivo e que o Jaraguá está recebendo os moradores mais pobres. Então, eu acho que o Jaraguá tende a aumentar as casas, os puxadinhos, o número de favelas, de conjuntos habitacionais, de aluguéis, e dessa forma, esse bairro vai se transformar em um quebradão tipo Capão Redondo [268 mil habitantes]".
Quanto ao futuro dele próprio, Benevenuto diz que pretende continuar à frente do Coletivo Salve Kebrada, realizar um doutorado com temática voltada para todas as periferias de São Paulo e trabalhar como professor ou pesquisador no ramo de História. Ele também está elaborando um projeto para um edital de fomento à periferia para fins de criação de um Centro Cultural no bairro Jaraguá.
A dissertação "Lutas sociais, associativismo e redemocratização na periferia noroeste de São Paulo: Jaraguá, 1983-1988" está disponível na íntegra para leitura no Scribd (clique no link em vermelho para acessá-la).
Marinaldo Gomes Pedrosa é formado em Jornalismo pela UniSant'Anna. Vive no bairro Jaraguá desde 1976. |
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