Albergue da Juventude no Jaraguá: uma breve história do despejo do hostel

Detalhe do Casarão Afonso Sardinha, que foi ocupado pelo Albergue da Juventude ao longo de 26 anos. Foto: © Marinaldo Gomes Pedrosa / Acervo Jaraguá SP Post

Em quase todo o mundo, a marca Albergue da Juventude é sinônimo de hospedagem econômica e compartilhada entre viajantes de diferentes lugares. Os frequentadores, geralmente, se acomodam em pequenas pousadas chamadas hostels - assim mesmo com a letra "s" no meio da palavra - onde há a oportunidade de diversão e entrosamento com pessoas de diferentes culturas.

Os ecos da internet nos revelam que esse conceito de hospedagem barata surgiu em 1909, na Alemanha, e que em 1932 várias instituições com o mesmo perfil uniram-se e fundaram a Hostelling International (HI), que hoje é a maior rede do ramo, com cerca de 60 associações operando em até 60 países, e com mais de 2.500 hostels e 3,3 milhões de membros.

A Associação Paulista de Albergues da Juventude (APAJ), por exemplo, é uma das instituições vinculadas à HI. A APAJ iniciou suas atividades em 1984, e apenas dois anos depois obteve um grande presente do Estado de São Paulo. Naquela época, a Secretaria de Esportes e Turismo que comandava o Parque Estadual do Jaraguá cedeu em comodato (um tipo de contrato de empréstimo) para a referida associação o direito de uso do Casarão Afonso Sardinha, que fica no sopé do pico do Jaraguá, pelo prazo de 20 anos.

O Casarão Afonso Sardinha, para quem não conhece, é uma residência de 21 cômodos com paredes de até 80 centímetros de espessura construídas com o método de taipa de pilão, com barro amassado e vísceras de animais, no ano de 1580, por Afonso Sardinha, o Velho, que fora o primeiro a explorar o ouro de aluvião na região no período do Ciclo do Ouro. Já em 1978, a casa quatrocentenária foi tombada pelo Conselho Estadual do Patrimônio Histórico. E, em 1986, com o início do contrato de comodato, foi transformada pela APAJ no Magdalena Tagliaferro Hostel, um hotel da rede HI.

Com mais de 400 anos, o Casarão Afonso Sardinha é uma das residências mais antigas do estado de São Paulo. Foto: © Marinaldo Gomes Pedrosa / Acervo Jaraguá SP Post

Vinte e cinco anos depois, a ONG Pick-upau formada por três ex-integrantes do Greenpece esteve no Parque Estadual Jaraguá e descobriu que o Casarão estava sendo utilizado para festa de crianças, com direito a centenas de bexigas e brinquedos pula-pula, algo que soou bem distante do propósito de um patrimônio histórico do Estado. A ONG, então, fez uma denúncia que acabou incentivando a realização de uma reportagem na Folha de S.Paulo.

Apurada e escrita por Eduardo Geraque, a reportagem veiculou no dia 14 de julho de 2011 no caderno Cotidiano da Folha de S.Paulo. Ela nos dá a conhecer que o nome Magdalena Tagliaferro Hostel figurou nos guias de hotéis até 2008, quando o contrato de comodato feito em 1986 já estava vencido há dois anos. Ao visitar o local, o jornalista descobriu que ninguém lá sabia ao certo quem exatamente tomava conta do Casarão. Ele constatou que havia uma geladeira e lixo no jardim, além de um fogão e muita bagunça próxima à área do que um dia poderia ter sido uma senzala. Na época, a situação precária da casa tombada entrou em debate no Conselho Estadual do Meio Ambiente. "Os dirigentes do órgão mandaram o Estado retomar a posse do casarão", escreve Geraque.

No ano seguinte, em 2012, a Procuradoria Geral do Estado obteve uma liminar que devolvia a posse do Casarão Afonso Sardinha ao Estado. Dessa maneira, a representação paulista do Albergue da Juventude teve que se retirar da residência. Os ocupantes tiveram um prazo de 30 dias para encontrar outra casa para morar.

Expandir conhecimento sobre o distrito Jaraguá:

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A reintegração de posse ocorreu no dia 9 de fevereiro daquele ano. Na ocasião, os representantes do Albergue da Juventude doaram os artigos, equipamentos e utensílios domésticos, bem como a mobília, para o Centro Espírita Casas André Luiz, que mais recentemente instalou o Bazar e Sebo Beneficente André Luiz na avenida Alexios Jafet, no bairro do Jardim Ipanema, no distrito Jaraguá.

Reintegrado, o Casarão Afonso Sardinha agora só pode ser visto por turistas pelo lado de fora. Foto: © Marinaldo Gomes Pedrosa / Acervo Jaraguá SP Post

Após o despejo, a Fundação Florestal passou a administrar a residência. Especulou-se, na oportunidade, que ela seria transformada em um Museu de Mineralogia ou em um Centro de Visitantes. Nenhuma dessas alternativas, porém, foi colocada em prática. Atualmente, o Casarão Afonso Sardinha permanece com as portas trancadas, e os visitantes do Parque Estadual do Jaraguá só podem visualizá-lo pelo lado de fora de seus muros e portões.

Despejo do Albergue da Juventude no Jaraguá

Localização

Casarão Afonso Sardinha

Imóvel histórico onde o hostel operava.

Período de Operação do Hostel

Desde 1986

Fazia parte da rede Hostelling International (HI).

Causa do Despejo

Mau uso e Contrato Expirado

• Descoberta pela ONG Pick-upau em 2011.
• Reportagem da Folha de S.Paulo expôs irregularidades.

Consequências

Retomada da Posse

• Estado de São Paulo retomou o Casarão em 2012.
• Albergue foi forçado a desocupar o local.

Situação Atual do Casarão

Fechado e Sem Planos

• Permanece fechado ao público.
• Não há planos implementados para seu uso futuro.

Bibliografia

• PORTAL PICK-UPAU - ONG. **Portal Pick-upau**. Disponível em: <https://www.pick-upau.org.br/ong/noticias/noticias_2011/2011.08.16_materia_jaragua_folha_sp/materia_parque_jaragua_folha_sao_paulo.htm>. Acesso em: 1 jun. 2025.
• FOLHA DE S.PAULO. **Foco: Casarão tombado do século 16 tem geladeira e lixo no jardim**. 14 jul. 2011. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1407201108.htm>. Acesso em: 1 jun. 2025.
• FUNDAÇÃO FLORESTAL. **Fundação Florestal obtém reintegração de posse do “Casarão do Afonso Sardinha”, no Parque Jaraguá**. Disponível em: <https://fflorestal.sp.gov.br/2012/02/fundacao-florestal-obtem-reintegracao-de-posse-do-casarao-do-afonso-sardinha-no-parque-jaragua/>. Acesso em: 1 jun. 2025.