Dona Gertrudes: Senhora da Fazenda Jaraguá e Dama da Corte Imperial
Nascida em São Paulo, entre 1784 e 1786, era filha de José Pedro Galvão de Moura e Lacerda e Gertrudes Teresa de Oliveira Montes. Em 1820, casou-se com o Brigadeiro Manuel Rodrigues Jordão, homem de grande fortuna, possuidor de mais de 50 fazendas, e cujo sobrenome imortalizou-se no nome da cidade Campos de Jordão. Quando em 1826 Jordão morreu, ela assumiu a partir daí os negócios da família. O sucesso de sua gestão a conduziu a uma posição de destaque e influência entre as pessoas mais abastadas de São Paulo.
Foi nesse contexto que, em 11 de dezembro de 1830, Dona Gertrudes Jordão (sobrenome que herdou do ex-marido) formalizou a aquisição da vasta Fazenda Jaraguá. A propriedade, comprada de Tristão Eclime de Wdval por quatorze contos de réis, abrangia uma área de 1.863 alqueires (equivalente a 45 Km² na conversão atual para o alqueire paulista). A transação incluía não apenas as terras férteis, mas também casas de moradia, extensas áreas de lavoura e pastagem, além de terrenos com indícios de ouro.
O negócio incluiu, ainda, benfeitorias realizadas, as plantações já existentes, todo o maquinário e ferramentas, trinta e dois indivíduos adultos e crianças escravizados, mobiliário completo e diversos rebanhos de gado bovino, muar e cavalar. O pagamento total deveria ser efetuado em um ano.
Originalmente, as divisas da fazenda confrontavam com propriedades vizinhas, a estrada de Paranahiba, o córrego da Lavrinha e o Barreiro. Mas nos anos seguintes, a expansão de seus domínios na região prosseguiu. Em 1841, Gertrudes adicionou uma parte de terras na área conhecida como sesmaria do Morro Azul, incorporando-a ao seu Sítio e Engenho da Laranja Azeda. No mesmo ano, adquiriu outras glebas no Jaraguá que faziam divisa com suas terras já existentes.
As atividades na Fazenda Jaraguá sob a administração de Dona Gertrudes eram dinâmicas. Relatos do viajante estadunidense Daniel Parish Kidder (1815-1891), que visitou a propriedade em 1839, mencionam a produção de café e cana-de-açúcar, a fabricação de farinha de mandioca, a operação de um engenho para produção de cachaça e a exploração de minas de ouro. Kidder também registrou impressões sobre a própria Dona Gertrudes e sua hospitalidade durante uma reunião social na fazenda.
Expandir conhecimento sobre o distrito Jaraguá:
- Carregando posts...
Herdeiros
Depois de uma boa vida afortunada, Dona Gertrudes veio a falecer em São Paulo por volta de 1º de fevereiro de 1848. O processo de inventário de seus bens foi iniciado em 1851. Certidões desse inventário indicam que as terras do Jaraguá foram repassadas para sua filha, Ana Eufrosina de Araújo Ribeiro, que era casada com o doutor Rafael de Araújo Ribeiro, com quem teve 14 filhos. Entre a prole estava Lucrécia Leme de Araújo, casada com Teófilo Azambuja, que presumivelmente herdou os remanescentes da Fazenda Jaraguá em 1889.
Em 1933, Lucrécia e filhos doaram 1.649 alqueires da propriedade para a Cúria Metropolitana, que tinha o objetivo de construir uma igreja na região, que até então fazia parte da Paróquia de Nossa Senhora da Expectação, na Freguesia do Ó. Em 1934, já em posse das terras doadas, a Cúria colocou a pedra fundamental da nova igreja, no atual centro do distrito Jaraguá, o que daria origem à Paróquia Nossa Senhora da Conceição.
Enquanto isso, os filhos do casal Azambuja venderam também a sede da fazenda Jaraguá e a área do pico do Jaraguá para o senhor Carlos de Paiva Meira. E em algum momento entre os anos de 1938 e 1940, o Governo do Estado de São Paulo fez a aquisição da área da sede, e em 1961 transformou-a no Parque Estadual Jaraguá. Essa cadeia de vendas, doações e aquisições revela a fragmentação da vasta propriedade que pertenceu à Dona Gertrudes.
O legado
Ao longo de sua vida, no século 19, Gertrudes destacou-se como mulher influente e bem-sucedida. Sua posse e gestão de uma das maiores fazendas da região de São Paulo impactou diretamente na história e no desenvolvimento do distrito Jaraguá, onde seu nome ecoa até os dias de hoje na Rua Dona Gertrudes Jordão, que passa por traz da Igreja Paróquia Nossa Senhora da Conceição. Em 1948, exatamente 100 anos após sua morte, o Jaraguá passou a ser oficialmente reconhecido como distrito da cidade de São Paulo.
Mas o legado de Dona Gertrudes Galvão de Oliveira e Lacerda não se restringe ao Jaraguá. Seu filho, Amador de Lacerda Rodrigues Jordão, que se tornou o 1º Barão de São João do Rio Claro, fundou em 1854 a Fazenda Santa Gertrudes, entre Limeira e Rio Claro. O nome foi uma homenagem à sua mãe.
Linha do Tempo de Gertrudes
Bibliografia
- Gertrudes Galvão de Oliveira e Lacerda. geni_family_tree. Disponível em: <https://www.geni.com/people/Gertrudes-Galv%C3%A3o-de-Oliveira-e-Lacerda/6000000014372286465>. Acesso em: 31 maio 2025.
- Histórico. Subprefeitura - Pirituba Jaraguá. Disponível em: <https://capital.sp.gov.br/web/pirituba_jaragua/w/historico/466>. Acesso em: 31 maio 2025.
- INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SÃO PAULO. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. São Paulo, v. 51, 1951-1953.
- Fazenda Santa Gertrudes. In: Wikipédia, a enciclopédia livre. [s.l.: s.n.], 2024. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Fazenda_Santa_Gertrudes&oldid=68752032>. Acesso em: 31 maio 2025.
Comentários
Postar um comentário
Deixe seu comentário e contribua com a nossa comunidade! Sua opinião é muito importante para o Jaraguá SP Post.