Entrevista com JR Mc: rapper jaraguense lançará CD com faixas inéditas em 2017

O rapper Ivson Lima, conhecido como JR Mc, fundador do AR2 Atitude Responsa Rap. Foto: acervo Ruan Goulart
O rapper Ivson Lima, conhecido como JR Mc,
fundador do AR2 Atitude Responsa Rap.
Foto: acervo Ruan Goulart
O rapper Ivson Soares de Lima Junior, mais conhecido como JR Mc, é hoje o único integrante do AR2 Atitude Responsa Rap (grupo de rap que nasceu no vilarejo Jardim Shangrila, dentro do bairro Jaraguá), mas nem sempre foi assim.

O grupo foi fundado em 1999 pelo JR Mc e por Alexandre Abe (Xande Mc). Na época, eles faziam ensaios com bases compradas na galeria 24 de Maio. Faltava de tudo, menos vontade de evoluir.

Com muita persistência, resistência e resiliência, os MCs compuseram e gravaram - com a ajuda de uma equipe independente - diversos raps ao longo dos anos. No processo, o grupo passou por outras formações. O ápice veio em 2011 com o lançamento da faixa "Respeito", cujo clipe foi exibido muitas vezes no canal aberto da MTV Brasil.

Agora, passados 5 anos de maturação pós sucesso na MTV, o JR Mc pretende levar o AR2 para uma nova fase, com novas letras e novas parcerias. Saiba mais sobre isso nessa entrevista exclusiva com o rapper realizada pelo jornalista e editor do Jaraguá SP Post, Marinaldo Pedrosa:

Marinaldo Pedrosa (MP)
: o AR2 é, provavelmente, o grupo de rap formado no bairro Jaraguá que alcançou maior projeção no Brasil, o que se deve ao sucesso do clipe de 7 minutos (lançado em 2011) da música "Respeito" (composta em 2008), o qual era exibido com frequência na MTV. Conte-nos como foi essa experiência. Como você se sentia ao ver seu clipe na TV?

JR Mc: na época fiquei feliz e orgulhoso por ter conseguido mostrar um pouco da nossa realidade do Jaraguá. Agradeço muito à MF Produtora e ao Marcão, que dirigiu meu clipe.
Confira o clipe da faixa "Respeito" (na íntegra):

MP: o grupo foi formado em 1999 e só 12 anos depois chegou à MTV. Foi uma caminhada lenta e imagino que cheia de dificuldades. Fale-me sobre isso e por que o AR2 não conseguiu emplacar outras canções desde então?

JR Mc: o AR2 era formado por 3 MCs e DJs. Nós estávamos focados em gravar e lançar o primeiro álbum. Conseguimos isso, mas a vida é cheia de surpresas. Na época, a MTV (onde rolava o nosso clipe da faixa "Respeito") era uma TV aberta, mas fechou. Hoje, essa emissora está em um canal a cabo.

No meio de tudo isso, os caras que estavam na caminhada comigo saíram do grupo por motivos particulares. Fazem seis anos que os caras saíram. Hoje, levo o nome do grupo sozinho. Estou gravando meu CD no Estúdio Lamparina com o Gutão, que está na linha de frete.

A produção desse CD vem com uma nova roupagem e com o título "Deixa que eu canto". Ele terá 9 faixas e contará com a participação da banda Indaíz (atualmente a única banda de reggae do bairro Jaraguá), além das atuações da Força Coletiva, Will Fort, Sombra (ex SNJ) e Phanton.

JR Mc tem uma parceria com a Indaíz, única banda de reggae do bairro Jaraguá na atualidade. Foto: acervo Gabriel Grisoli Fotografia
JR Mc tem uma parceria com a Indaíz, única
banda de reggae do bairro Jaraguá na atualidade.
Foto: acervo Gabriel Grisoli Fotografia

Devido a saída dos manos, eu tive que fazer letras novas para prosseguir na caminhada. Além do CD, gravei um DVD no Casarão Arte Livre. Creio que esse trabalho seja publicado junto o CD em 2017.

MP: como era o processo de produção das músicas do AR2?

JR Mc: na época a gente escrevia junto. Hoje componho sozinho.

MP: hoje você tem uma parceria com o grupo de reggae Indaíz. Como foi esse pulo do rap para o reggae?

JR Mc: aconteceu naturalmente. O meu irmão, o Sandro, é vocalista da banda a Indaíz. Ele teve participação importante para eu não deixar o AR2. Hoje eu brinco com os caras que eu já faço parte da banda Indaíz (risos).

MP: o que você diria para outros rappers do bairro Jaraguá que estão começando agora?

JR Mc: em primeiro lugar, respeito a caminhada de cada um. Hoje é mais fácil gravar CD. Qualquer um pode gravar. Mas tem que ter o dom do bagulho e se posicionar.

Por exemplo, o meu rap é voltado para o lado social. Eu acredito que o rap tem esse dom de resgatar o mano de baixa estima na favela e fazê-lo erguer a cabeça e seguir em frente. Agora, se você pensar só no lado comercial, vai acabar se tornando só mas um marionete.

Além disso, a organização é importante. É preciso montar uma "família" para trabalhar nos bastidores, para tipo marcar shows, entrevistas e tal. Eu estou há 18 anos no bagulho. O meu CD vai sair ano que vem, se Deus quiser. Hoje tem molecada que não tem nem um ano de caminhada e já tem EP nas mãos. É difícil, mas no final vale a pena e fica para a história.

MP: você gostaria de falar sobre algo que eu não tenha perguntado ou dar uma mensagem final? Fique a vontade.

JR Mc: gostaria de agradecer o seu respeito pelo meu trampo e falar que faço parte da iniciativa Casarão Arte livre do Coletivo Ocupa Pinheirinho, que rola todo último domingo do mês dentro do parque de mesmo nome, no Jaraguá, de graça para todos os públicos.


O Casarão Arte Livre é um movimento do Coletivo Ocupa Pinheirinho, que tem como meta ocupar o casarão do Parque Pinheirinho D'Água, no Jaraguá, com todo o tipo de arte possível. Foto: acervo AR2 Atitude Responsa
O Casarão Arte Livre é um movimento do Coletivo Ocupa Pinheirinho,
que tem como meta ocupar o casarão do Parque Pinheirinho D'Água,
no Jaraguá, com todo o tipo de arte possível.
Foto: acervo AR2 Atitude Responsa
Temos uma parceria entre o AR2 e a banda Indaíz nesse projeto. Quem quiser conhecer nossa ocupação procure por "Casarão Arte Livre" no Facebook ou Instagram.

Sobre o Autor:
Marinaldo Gomes Pedrosa Marinaldo Gomes Pedrosa é formado em Jornalismo pela UniSant'Anna. Vive no bairro Jaraguá desde 1976.

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