O texto e as fotos deste artigo são de autoria da bióloga e doutoranda em Ciências pela USP, Natasha Ceretti Maria (biografia no final do post).
Em 1500, quando os primeiros europeus chegaram ao Brasil, a Mata Atlântica cobria 15% do território brasileiro. Sua região de ocorrência abrangia 17 estados da Federação: Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e São Paulo. Sua devastação histórica a reduziu para apenas 7,84% de sua cobertura florestal original. É o segundo ecossistema mais ameaçado de extinção do mundo, perdendo apenas para as quase extintas florestas de Madagascar na Costa da África.
Parte da mata do Parque Estadual do Jaraguá (PEJ) por onde escoa o Ribeirão das Lavras, um rio que nasce no "coração" do Pico do Jaraguá |
A Mata Atlântica é considerada uma das grandes prioridades para a conservação da biodiversidade em todo o mundo, encontrando-se classificada entre os 34 “hotspots” do planeta. Um “hotspot” é uma área de relevância ecológica caracterizada por grande riqueza biológica de espécies que só são encontradas nestes locais.
Floresta Ombrófila densa localizada na Trilha do Silêncio. Foto: acervo Natasha Ceretti |
O Estado de São Paulo concentra os maiores remanescentes de Mata Atlântica do Brasil. A maioria está concentrada na região Costeira, nas Serras do Mar, da Bocaina e da Mantiqueira, nos Vales do Ribeira e Paraíba e no Cinturão Verde de São Paulo. Na região Metropolitana de São Paulo (RMSP) encontram-se diversas áreas protegidas destacando-se entre elas o bairro Jaraguá localizado na região noroeste de São Paulo.
Desde 1994, o PEJ é patrimônio da Unesco. Foto: acervo Natasha Ceretti |
Nesse contexto, o Parque Estadual do Jaraguá (PEJ) apresenta grande importância na produção de serviços ambientais, proteção de remanescente de Mata Atlântica e como espaço de recreação, lazer e educação ambiental para a população do seu entorno. O PEJ constitui uma Zona Núcleo da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo.
Conheça as principais formações vegetais do PEJ
Segundo o Plano de Manejo (2010) elaborado pelo Instituto Florestal (IF), a vegetação do PEJ está situada em uma zona de transição onde predomina a Floresta Ombrófila Densa, com a presença de algumas espécies de Floresta Semidecidual. Destaca-se ainda a existência de uma outra fitofisionomia em uma região de afloramentos de rocha e solo raso, onde ocorrem espécies de Cerrado localizadas na parte alta do parque (no Pico do Jaraguá).
Cerrado é essa vegetação rala nas partes altas do PEJ. Foto: acervo Natasha Ceretti |
Um fato importante a ser destacado é que há ausência de áreas de altíssimo grau de conservação vegetal no parque devido ao processo histórico de uso da terra, uma vez que durante muitas décadas a área foi destinada ao cultivo de café. Segundo o IF, embora não haja registros, é muito provável que sua vegetação natural tenha sido suprimida para dar lugar às plantações. Ainda é possível ao caminhar pelas trilhas ver pés de café crescendo em meio à mata.
- Leia também "Diversidade da fauna do Parque Estadual do Jaraguá: importância deste remanescente frente aos impactos da urbanização"
Dentre essas podemos observar espécies como a Palmeira Juçara (Euterpe Edulis), da qual é extraído o palmito, que corre um sério risco de extinção por causa do extrativismo ilegal; e alguns exemplares de Araucárias ou Pinheiro do Paraná (Araucaria angustifolia). Na cidade de São Paulo existiam grandes quantidades de araucárias. Atualmente, porém, a espécie pode ser vista em poucos locais e está restrita a exemplares isolados ou em pequenos agrupamentos.
Araucárias do PEJ. Foto: acervo Natasha Ceretti |
Araucárias próximas ao Casarão Afonso Sardinha, no PEJ. Foto: acervo Natasha Ceretti |
Um grande problema presente no parque é a elevada abundância de espécies exóticas que dificulta práticas de manejo. A grande ameaça ambiental local, contudo, ainda são os impactos da urbanização do entorno que tornam o PEJ vulnerável e representam um desafio para a conservação de sua biodiversidade.
Natasha Ceretti é mestre em Ciências (Saúde Ambiental) e doutoranda em Ciências pela FSP-USP. É bióloga pela UniSão Camilo. |
Parabéns pelo texto.
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