Expedição fotográfica ao Conjunto Residencial Bandeirantes

O Rei da Pamonha está nos limites do Conjunto Residencial Bandeirantes, segundo relatos de uma funcionária
O Rei da Pamonha está nos limites do Conjunto Residencial
Bandeirantes, segundo relatos de uma funcionária
É domingo, 7 de agosto de 2016. Acabo de passar pela Vila Homero, onde realizei a primeira edição do projeto "Expedições fotográficas aos vilarejos do bairro Jaraguá" e agora caminho em direção ao Conjunto Residencial Bandeirantes, também chamado de Décima Área, para fotografar e pesquisar o lugar.

No trajeto, paro no restaurante localizado na rodovia dos Bandeirantes, O Rei da Pamonha, onde lancho uma pamonha com queijo, bebo um refrigerante e tomo um sorvete de milho.

Uma hora mais tarde, prossigo viagem e chego à portaria do clube Aerosampa, na avenida Chica Luíza, 1687, onde sou recepcionado por um senhor que me entrega uma comanda. Passo a guarita e subo uma rua de terra. Viro à esquerda e dou de cara com um dos dois picos do bairro Jaraguá, precisamente o Pico do Papagaio, em um ângulo que nunca havia visto antes.

Pico do Papagaio visto a partir da entrada do clube Aerosampa
Pico do Papagaio visto a partir da entrada do clube Aerosampa
Cenário de boas-vindas ao clube Aerosampa
Cenário de boas-vindas ao clube Aerosampa
De súbito, ouço um, dois, três, quatro tiros. Um calafrio percorre minha espinha. Mil coisas passam pela minha cabeça. Em todo o Jaraguá a população tem uma média de 7 mil habitantes por quilômetro quadrado, mas ali, naquele trecho inabitado, praticamente um deserto, para quem eu poderia pedir socorro?


Posição do Conjunto Residencial Bandeirantes dentro do bairro Jaraguá
Posição do Conjunto Residencial Bandeirantes dentro do bairro Jaraguá
Ouço cinco, seis, sete tiros. Não entendo o que está acontecendo. Simultaneamente, um pequeno avião dá um rasante no alto do morro. No instinto, abaixo a cabeça para me "proteger" dos tiros, aperto o passo e subo. O que vejo em seguida é um pequeno aeroporto, no qual há ao menos uma dúzia de praticantes do aeromodelismo.


Pista do clube Aerosampa
Pista do clube Aerosampa
Agora mais tranquilo por ter encontrado aquelas pessoas, caminho até a administração do local. Sou atendido por Emilly Wegener, filha do presidente do clube.

- Não se preocupe. Os tiros que você ouviu partiram de uma escola de tiro localizada ao lado - ela me conta.

Surpreso por perceber que existe uma escola de tiro no bairro e muito mais calmo com a revelação feita pela moça, pergunto a ela como funciona o Aerosampa.

- Nós estamos há mais de 15 anos no mercado - ela diz -, temos um curso de 20 aulas.

- Qual o preço? - questiono.

- Cada aula custa R$ 35,00.

- Quanto tempo demora para alguém concluir o curso e se tornar um piloto?

- Em média um a três meses. Tudo vai depender da assimilação do aluno.

Peço permissão a Emilly para fotografar e andar pelo clube, que tem uma pista asfaltada de 180 metros com capacidade para o uso simultâneo de até seis pilotos aeromodelistas e uma pista de grama para heliomodelismo.


Pista de aeromodelismo do Aerosampa
Pista de aeromodelismo do Aerosampa
Loja do clube Aerosampa

No comando de um aeromodelo encontro um piloto que se apresenta como Luis Mausone.

- Não fique tão próximo da pista - ele me pede -, o avião pode bater em você e te machucar.

- Até que distância você consegue manter o controle do aeromodelo? - eu quis saber.

- Na teoria, até um quilômetro. Só que, na prática, a um quilômetro de distância a gente não consegue enxergar a aeronave. Então, só conseguimos controlá-la de verdade em um raio de aproximadamente 300 metros.


Mausone no controle de um aeromodelo, no Aerosampa
Mausone no controle de um
aeromodelo, no Aerosampa
Ainda no clube Aerosampa encontro o piloto e instrutor de heliomodelismo, Milton Einar Papa, com o qual inicio uma conversa sobre drones.

- Você não precisa de um curso para aprender a operar um drone - ele me informa -, os comandos são simples e fáceis de manipular.

- E quanto aos helicópteros? O que você mais curte no heliomodelismo? - pergunto.

- Eu gosto de fazer o First Person View (FPV).

- O que seria isso?

- A gente coloca uma câmera dentro do helicóptero. Essa câmera é integrada a um óculos que usamos enquanto pilotamos a aeronave, o qual projeta as cenas em tempo real como se estivéssemos dentro da cabine.

Papa me diz que um instrutor chamado Wanzam costuma publicar vídeos FPV no Youtube. A seguir é possível ver um desses vídeos feitos dentro do clube Aerosampa:


Acho a ideia do FPV muito divertida, no entanto, eu precisava partir e continuar a expedição fotográfica. Me despeço do pessoal do clube Aerosampa e, na saída, fico sabendo do porteiro que há uma tribo indígena nas imediações.


Mais à frente de onde estou, logo além do Rodoanel Mário Covas, localizam-se o Jardim Britânia e o Conjunto Residencial Sol Nascente que, de acordo com os mapas da Prefeitura de São Paulo, pertencem ao bairro Anhanguera e não ao bairro Jaraguá, logo, não serão objetos de minhas expedições.

Retorno, então, quinhentos metros pela avenida Chica Luíza e entro na parte povoada do Conjunto Residencial Bandeirantes. Percorro algumas de suas 12 ruas. Percebo que ali, assim como na Vila Homero, há um posto da Sabesp, o qual é denominado Estação de Tratamento de Esgoto Bandeirantes.
Este é o único lugar público que os moradores do Conjunto Residencial Bandeirantes, no Jaraguá, têm para se divertir
Este é o único lugar público que os moradores do Conjunto
Residencial Bandeirantes, no Jaraguá, têm para se divertir

Subo o morro, que tem 800 metros de altitude. Lá em cima, ouço e vejo os aviões do clube Aerosampa fazerem as mais diversas acrobacias. Caminho até a rua Pedro de Pastrana. No lugar encontro uma pequena quadra, na qual crianças jogam futebol.

- Este é o único lugar público que temos para brincar por aqui - me diz um morador chamado Eduardo Teixeira.

Teixeira me informa que aquela quadra fora instalada por volta do ano 2002 juntamente com um playground que, por falta de manutenção, hoje já não existe mais. Ele também me dá mais detalhes sobre a tribo indígena dos Guarani Mbyá instalada nas proximidades.


A construção azul é uma das três transportadoras do local
A construção azul é uma das
três transportadoras do local
Desço o morro, entro na avenida e passo por três empresas transportadoras, são elas a Print, a Transvare e a Sued Logística, ao lado da qual há uma trilha de terra por onde após dez minutos de caminhada, segundo me informaram os moradores do local, chega-se a tribo indígena dos Guarani que ali sobrevivem há dois anos. Achei que não deveria entrar lá sem antes avisá-los de alguma forma, por isso, finalizo a jornada fotográfica ao Conjunto Residencial Bandeirantes e começo a pensar nas expedições a outros vilarejos do distrito Jaraguá.

Sobre o Autor:
Marinaldo Gomes Pedrosa Marinaldo Gomes Pedrosa é formado em Jornalismo pela UniSant'Anna. Vive no bairro Jaraguá desde 1976.

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